Os diálogos da Alma nem sempre são fáceis e requerem maturidade e muito amor, acima de tudo por nós próprios. Mergulhar no silêncio como ponto de partida é fundamental para escutar cada recanto do nosso âmago, pois é no silêncio que encontramos o espaço para o diálogo interno. Lamber as nossas feridas até sararmos as entranhas do nosso Ser, requer entrega total e absoluta e muita paciência. Transformamo-nos então numa Fénix e renascemos das cinzas. Retiramos as vestes do Ego e ficamos despidos na Essência. Esse é o verdadeiro percurso na Vida.
Se não o fizermos, não estamos a Ser o que verdadeiramente somos e entramos no labirinto perigoso da auto-traição. O trajecto inverso desta mesma auto-traição é parar e começar a encarar a nossa verdade e, assumidamente, começar por nos amarmos, por nos respeitarmos e nos libertarmos das contingências da vida que nem sempre são fáceis de desmantelar e encarar para mudar.
Ter ousadia de ser-se igual a si próprio dando voz àquilo que é real: o coração. Quando por vezes temos a sensação de que a vida não nos faz sentido, como podemos transformá-la de forma a que tudo tome um verdadeiro rumo, sem menosprezarmos o que somos?
Cada passo é um passo, passo esse que pode sempre trazer grandes aprendizagens de nós e para o que vem a seguir. Nem que tenhamos de por tudo em causa e recomeçarmos tudo de novo, devemo-nos isso, sem medos nem preconceitos. O que temos a perder, que seja mais importante que nós próprios? Por vezes é necessário quebrar com ideias pré-concebidas e passar à acção, sem fugas ou auto-convencimentos de que não somos capazes. Esta atitude é uma escolha.
Geram-se grandes conflitos internos, muitas vezes, porque temos medo de dizer o que sentimos e não somos autênticos, nem connosco nem com os outros, por receio de sermos rejeitados ou abandonados, por comodismo ou porque escolhemos o conformismo nas situações. Ao dizer a verdade, mesmo que isso nos pareça insólito, ou mesmo que nos auto-convençamos de que não vale a pena, respeitamo-nos e levamo-nos ao caminho de encontro connosco próprios. Responsabilizarmo-nos pelas nossas escolhas, com coerência e discernimento, entregando-nos às causas que nos fazem avançar para o sucesso interno e externo. Pedir ajuda também não é fracasso, antes pelo contrário, é a verdadeira humildade na realeza do Ser.
Então, as perguntas que me coloco são: “o que é que pretendo verdadeiramente da vida?”; “Por onde é que este caminho me vai levar?”; “Isto torna-me livre?”; “Será que escuto a voz do meu coração?”; “E se tentasse, como me sentiria?”; “Como posso agir da forma mais assertiva, respeitando-me a mim e aos outros?”.
Aprender a confiar na vida acrescenta maior fé e luz na nossa existência. Priviligiar os momentos de auto-escuta e auto-observação permite conhecermo-nos melhor. Reestruturar com o poder da oração, religa-nos ao nosso Eu Superior. Fazer da vida poesia quando a prosa já não encaixa e quando as adversidades da vida surgem. Fazer milagres quando parece que está tudo perdido como uma luz ao fundo do túnel que nos vem finalmente clarear. Sorrir quando nos apetece sorrir, chorar quando nos apetece chorar, sem ter medo do que os outros pensam ou se vão gostar menos de nós. Assumir que por vezes nos sentimos mais debilitados. Mostrar as nossas fragilidades é um acto de coragem e de amor-próprio, pois revela o nosso rosto tal como ele é. Não serão as fragilidades forças quando as assumimos como elas são? Dar vida à Vida pelo nosso entusiasmo com um grito de esperança. Agradecer quando não temos mais força e cantar para brindar os nossos triunfos.
Do caos nasce ordem, pois o caos também tem a sua ordem, é só preciso aceitar e não fugirmos de nós próprios, mesmo que tudo pareça em sentido contrário. É só uma questão de sentir. Aí reside a nossa voz interna. Se seguirmos o nosso caminho da Alma ser-nos-á sempre comunicado “está tudo bem”, mesmo que aparentemente não pareça. Não controlamos nada, não possuímos nada, apenas Somos. Viemos para nos seguirmos a nós próprios.